Alguns amigos me perguntam o que achei da nomeação da ex-prefeita Luizianne Lins para o cargo de conselheira do BNDES. Ora, acho normal, o que não quer dizer que ache uma boa escolha. É normal porque o padrão vigente para a distribuição de cargos é o loteamento político.
Num país onde Edson Lobão é ministro das Minas e Energia (preenchendo a cota para garantir o apoio de José Sarney ao governo), José Eduardo Cardozo e Marta Suplicy comandam as pastas da Justiça e da Cultura (cotas do Lula), Aldo Rebelo se entrincheira no Esporte (feudo do PCdoB), Marcelo Crivella reza na Pesca (paraíso de Edir Macedo), entre outros, a nomeação de Luizianne tem até menor potencial de causar prejuízos à nação do que outras. No fundo, a boquinha visa mesmo é acomodar a ex-prefeita, de modo a evitar rachas na base subirá no palanque de Dilma no Ceará.
Esse não é o primeiro caso envolvendo políticos cearenses ultimamente. Quem não lembra que até pouco tempo Leônidas Cristino, com a autoridade e a expertise de quem já foi prefeito de Sobral (município incrustado no semiárido), ocupava a Secretaria dos Portos, com status de ministro? Estava a preencher os cargos doados ao então PSB ligado ao governador Cid Gomes. Não entender nada, absolutamente nada, da área em que vai atuar não é nenhuma exceção ou anomalia na gestão Dilma, pelo contrário. É normal.
Tanto é assim que ninguém nem disfarça mais. Ciro Gomes, por exemplo, é apontado como indicação do recém-criado Pros, uma mera sigla de aluguel, para ocupar algum ministério. Isso mesmo, o quinhão do partido é qualificado por um pronome indefinido, e o nome do possível donatário é lançados antes de mesmo de saberem qual área lhes será entregue. O líder do Pros na Câmara Federal, um certo Givaldo Carimbão (AL), explica que “Ciro tem capacidade para tudo”. Por mais que Ciro seja mesmo um nome experimentado, tudo é muita coisa. Mesmo que Ciro recuse a indicação – ele declara não ter esse desejo -, o que fica patente nisso tudo é o método vigente, baseado no princípio da distribuição de cargos para contemplar arranjos eleitoreiros.
Isso não é invenção de Dilma Rousseff, uma novata em mandatos eletivos. Mas em seu governo, a prática ultrapassa qualquer limite, especialmente agora com a aproximação do ano eleitoral. Tanto que existem nada menos do que inacreditáveis 39 ministérios. E é exatamente isso o que une adversários declarados como Luizianne Lins e Ciro Gomes. Por mais que se imaginem distantes um do outro, estão aí sob a tutela desses manejos e conveniências. São, queiram ou não, e ainda que por força das circunstâncias, aliados no desejo de compor esse time de notáveis escalado pela presidente.
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